segunda-feira, 19 de abril de 2010

Médica revela em depoimento a face cruel do líder da quadrilha

Acusada de integrar bando especializado em extorsão e que executou dois empresários em BH revela detalhes das ações de Frederico Flores, articulador dos crimes hediondos

Pedro Rocha Franco - Estado de Mina


Gabriela Ferreira Corrêa Costa, que tem em seu blog fotos de várias viagens, diz que foi coagida a colaborar com a quadrilha.

Capaz de cometer os crimes mais atrozes, Frederico prefere esconder a cara no uniforme vermelho do Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) São Cristóvão, onde está preso desde terça-feira – dia em que o garçom Adrian Gabriel Grigorcea, de 45, brasileiro naturalizado norte-americano e envolvido com a quadrilha, resolveu confessar à PM ter participado dos crimes, quando foi alertado que seria a próxima vítima. As sessões de tortura sofridas por Rayder Rodrigues e Fabiano Ferreiro Moura, assassinados pelo bando, comprovam a crueldade. Com as mãos e os pés amarrados, eles eram agredidos repetidas vezes e sofriam ameaças de morte, sob a mira de armas de fogo. Mas, segundo Gabriela, as vítimas não foram as primeiras. Ela teria presenciado outras sessões desde quando conheceu Frederico, há cerca de dois anos.
Cativante, estudante de direito e morador da Região Centro-Sul, Fred, como era chamado pelos íntimos, fazia amigos com facilidade e os transformava em comparsas. Alegando estar amedrontados, eles teriam sido intimidados com ameaças de terem os familiares mortos e, por isso, preferiam ficar em silêncio e integrar o bando. “Os depoimentos corroboram a personalidade de um torturador e manipulador”, afirma o chefe do Departamento de Investigações, delegado Édson Moreira.

Intimidada pelo "amigo" Frederico, que se dizia apaixonado por ela, a médica Gabriela teria se envolvido nos delitos sob ameaça de ter que presenciar os próprios pais sendo executados e mutilados. No duplo homicídio, confessou ter participado da cronologia macabra e seria responsável por fazer as transferências bancárias e pelo menos um dos saques. Outra atribuição dela no esquema seria ajudar na limpeza do apartamento onde houve a execução de Rayder e Fabiano. Mas ela nega participação nos assassinatos e no esquartejamento das vítimas, o que teria sido feito pelos cabos André Bartolomeu e Renato Mozer, além de Frederico. “Exceto os PMs, os demais integrantes tinham pavor do Frederico”, afirma Édson Moreira.




Frederico Costa Flores de Carvalho disse que falaria sobre o caso e chegou a ser levado à presença dos delegados, mas voltou atrás e foi novamente trancafiado.


Mas, por trás da sequência de crimes da quadrilha de Frederico, estão transgressões das próprias vítimas. O mandante se relacionava com pessoas que cometiam atos ilícitos para intimidá-las, como ocorreu com os sócios Rayder e Fabiano. Eles eram responsáveis pela prática de outros delitos, como lavagem de dinheiro. Donos de empresas de fachada, simulavam fazer o comércio de produtos de informática e celulares para acobertar repasses de montantes de origem ilegal, que a polícia ainda não revelou a quem pertencia. Além disso, eram usados como “laranjas” de terceiros – também ainda não identificados. Portando documentação falsa, Rayder e Fabiano abriam contas em bancos para movimentar dinheiro ilícito de empresários.
O próximo passo da investigação, segundo a titular do inquérito, delegada Elenice Batista Ferreira, deve ser a intimação de outras duas testemunhas: Larissa Grigorcea e Tatiane Rodrigues – atual e ex-mulher de Rayder, respectivamente. Um bilhete enviado pela vítima a Tatiane, horas antes da morte e na véspera do aniversário da filha, seria uma peça importante no quebra-cabeça e ajuda a inocentar Sidney Benjamin, conhecido como Pastor, no crime. Ele teria apenas feito serviços de entrega para Frederico em troca da promessa de gravação de um CD de música evangélica.

Os dois PMs e Frederico negam envolvimento nos crimes e se recusam a falar à polícia. Apesar disso, a Justiça decretou a prisão temporária, por 30 dias, dos três, além de Gabriela, Adrian e Arlindo Soares – o último teria conhecido Fred na faculdade de direito.

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